segunda-feira, 1 de março de 2010

O apelo à energia verde de alguns republicanos dos EUA

Senador Lindsey Graham, republicano da Carolina do Sul que, juntamente com o senador John Kerry, democrata de Massachusetts, e o senador Joe Lieberman, independente de Connecticut, está tentando formular um novo projeto de lei de energia - um que realmente pudesse conseguir 60 votos. 

O interessante em relação a Graham é que ele está disposto - corajosamente a se afastar do consenso predominante no G.O.P. (sigla de Grande Velho Partido, como os republicanos são conhecidos) de que a única política energética necessária é a do "perfure, baby, perfure*".


O senador Republicano Lindsey Graham
Foto: Reprodução/ http://lgraham.senate.gov/

O que o convenceu?, pergunta-se a ele. A resposta breve de Graham: política, empregos e legado. Comecemos pela política. O Partido Republicano enfrenta hoje um grande problema de alcance em dois importantes eleitorados, "os hispânicos e os jovens", explica Graham. "Visitei universidades suficientes para saber que, se você tem 30 anos ou menos, a questão do clima não é um debate. É um valor. Esses jovens cresceram com a reciclagem e uma sensibilidade para o meio ambiente - e o mundo será bem melhor por conta disso. Eles não sofreram lavagem cerebral. (...) De um ponto de vista republicano, deveríamos abraçar a questão do meio ambiente e não menosprezar esses jovens. Você pode ter um genuíno debate sobre a ciência da mudança climática, mas, quando diz que aqueles que acreditam nela são malucos e estão comprando uma fraude, está colocando o futuro de seu partido em risco entre os mais jovens. Você pode ter uma discussão legítima sobre como resolver o problema da imigração, mas, quando começar se focar nos sobrenomes das pessoas, será atropelado pela demografia".
Portanto, a abordagem de Graham para persuadir os conservadores foi simples: evite falar sobre "mudança climática", na qual muitos da direita não acreditam. Em vez disso, estruture seu desafio energético como uma necessidade para "limpar a poluição do carbono", para "se tornar energeticamente independente" e "criar mais empregos e novas indústrias para os americanos da Carolina do Sul". Ele propõe "aplicar um preço sobre o carbono", começando com um imposto direto sobre o carbono, em oposição a um sistema econômico mundial de limitar e negociar emissões (conhecido como cap-and-trade) no mercado, de forma a incentivar tanto consumidores quanto indústrias a investir e comprar novos produtos energeticamente limpos. Ele inclui a energia nuclear e insiste em manter a exploração de petróleo e gás em alto-mar como forma de garantir mais fontes domésticas, enquanto construímos a ponte para uma nova economia baseada em energia limpa.
"O esquema de limite e negociação de carbono, da forma como o conhecemos, está morto, mas a questão da despoluição do ar e da independência energética não deve morrer - e você não terá independência em energia sem precificar o carbono", argumenta Graham. "A tecnologia não faz sentido até que você coloque um preço no carbono. A energia nuclear é uma aposta em um ar mais limpo. A energia eólica e solar é uma aposta em um ar mais limpo. Você faz essas apostas ao assumir que despoluir o ar será mais lucrativo do que deixá-lo sujo, e a única forma de fazer isso é o governo estabelecer algumas punições - não apenas incentivos. A futura economia dos Estados Unidos e os empregos do futuro estarão atrelados à despoluição do ar. Nesse processo de despoluição, o país torna-se independente em termos de energia, e nossa segurança nacional é reforçada."
Lembre, acrescenta Graham: "hoje, estamos mais dependentes do petróleo estrangeiro do que depois do 11 de setembro. Isso é negligência política, e cada membro do Congresso é responsável".
O tema não diz respeito apenas à próxima geração, diz ele. "Quando você fala sobre o futuro, se esquecer que as pessoas vivem no presente, não terá futuro politicamente. Você tem de fazer as pessoas do presente se envolverem com o futuro. Eu digo aos meus eleitores: "se tentarmos limpar o ar e nos tornar energeticamente independentes, criaremos mais empregos do que qualquer coisa que eu possa fazer como senador". A General Electric produz todas as turbinas para usinas eólicas em Greenville, na Carolina do Sul." Graham também trabalha para que seu estado se torne um centro produtor de componentes para reatores nucleares e de biomassa a partir de vegetais e madeira.
O que o ajudaria a convencer seus colegas do G.O.P.? O lobby do negócio. "A Câmara de Comércio e a Associação Nacional de Indústrias precisam dizer aos meus colegas: tudo bem colocar preço no carbono, desde que você faça isso de uma maneira inteligente", afirma.
É claro que a estratégia de Graham provocará azia em muitos adeptos do movimento verde. Não concordo com todos os pontos. Mas, se vai haver um projeto de energia limpa, os "verdes" e os democratas terão de recrutar alguns republicanos. Graham diz que está pronto para encontrá-los no meio do debate. "Tivemos de começar", afirma ele, "porque, assim que começarmos, todos os presidentes de empresas adotarão uma estratégia de carbono, não importa o que a lei exija realmente".
E, àqueles republicanos que pensam que ele é um perdedor, Graham diz: pense novamente. "Qual é a nossa posição sobre o carbono como um partido? Somos o partido da poluição do carbono para sempre em quantidades ilimitadas? Colocar preço no carbono é a chave para a independência energética, e o subproduto disso é que os jovens olham para você de forma diferente."
Veja como Graham é recebido hoje nas universidades.
"Em vez de ser apenas mais um republicano branco e baixinho com mais de 50 anos", diz ele, "agora sou agora um cara "quase-legal". Existe, entre os jovens, uma consciência de que estou fazendo algo diferente".
Mais cinco senadores republicanos como ele e teríamos um verdadeiro projeto de energia.
"Não podemos ser um país que sempre tenta e fracassa", conclui Graham. "Em algum momento, temos de confrontar alguns problemas complicados."
   
Artigo distribuído pelo New York Times News Service.